terça-feira, 2 de novembro de 2010

Tropa de Elite 2

Direção: José Padilha

Roteiro: Bráulio Mantovani


No primeiro ‘Tropa de Elite’ a quase onipotência do BOPE era evidente. O “bom mocismo” (ênfase nas aspas) dos caveiras foi visto com bons olhos pelos espectadores, ávidos em repetir cada jargão do capitão Nascimento e companhia. O Batalhão de Operações Especiais da polícia do Rio de Janeiro parecia ser um antídoto contra a criminalidade. Quinze anos se passaram, e em Tropa de elite 2, a problemática não se estabelece apenas no confronto entre traficantes versus policiais, mocinho de um lado e um vilão feio, sujo e marginalizado do outro. O sistema corrupto cujos interesses políticos e econômicos são primordiais revelam uma sociedade(classe política, elite, classe média, etc) com valores espúrios. E para lutar contra essas adversidades não basta força física. Maduro, complexo e revelador, ‘Tropa de Elite 2’ está, certamente, entre os grandes filmes da história do cinema Nacional.

No filme, Capitão Nascimento (Wagner Moura, incrível) após uma mal sucedida operação em um presídio, passa a entregar a Secretaria de Segurança do Estado. Com seu perfil conhecidamente violento decide transformar o BOPE em uma máquina de guerra e expulsa traficantes de vários morros cariocas. O fato permite a ocupação desses morros por milicianos. Além dos problemas no trabalho, a vida pessoal de Nascimento encontra percalços na ‘distante’ relação com o filho e no confronto ideológico com Fraga, deputado Estadual com posições contrárias as dele, que é casado com sua ex mulher. O ator Wagner Moura mantém o tom viril, e sanguinário do Nascimento do primeiro filme, mesmo que não parta para o confronto físico, o ex Capitão ‘explode’ com surpreendente facilidade, o que fica claro em discussões ásperas com Fraga e o ex companheiro do BOPE Matias. O ator por outro lado, constrói um Nascimento, acuado, desiludido e inseguro ao, muitas vezes, ter que lidar com situações que jamais imaginara. Ter que confrontar um sistema corrupto, no qual o mesmo faz parte, como uma singela engrenagem.


Transformar o ‘super herói’ do primeiro Tropa de Elite em uma engrenagem do sistema é uma das principais virtudes do filme. Se antes as soluções pareciam pautáveis, hoje a complexidade dos problemas o atordoa, o diminui, e de certa forma, o humaniza. Como lutar contra grupos criminosos que atuam dentro do próprio Estado, da própria Secretaria de Segurança para proteger os milicianos que seriam úteis no processo eleitoral na conquista de votos para o Governador em questão? Como confrontar com os próprios paradigmas mediante ao fato de sempre olhar com desdém para aqueles que como o deputado Fraga, defende os Direitos Humanos; se a violência que usara estava( de certa forma) a serviço de um estado corrupto? Confuso, Nascimento rever certos valores e neste filme é um personagem menos arrojado, no entanto, mais maduro e ainda corajoso.

Padilha atenta também para o poder da mídia. O jornal que ignora certo assunto por causa proximidade das eleições. O apresentador de programa sensacionalista, ridicularizado pelo próprio Governador que precisa dele, pois o programa tem boa audiência. Estreitamento de relações nas quais fortalecem a máquina do Estado.

É estabelecido nos créditos iniciais: o filme é uma obra de ficção e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Obviamente, como notou uma matéria sobre o filme no Jornal ‘O Globo’, um miliciano não dispararia tiros para o alto em um churrasco comemorativo em uma comunidade na presença do Governador e do Secretario de segurança; difícil acreditar que um policial reuniria o aparato do Estado para montar uma blitz no intuito de encher de pancada um Secretário de Segurança corrupto. Essas questões não são problemáticas. Afinal, é cinema, é imaginário. É triste constatar ( principalmente como morador do Rio de Janeiro), no entanto, que muitos dos personagens desta obra fictícia são reais e estão no poder.

Com excepcional técnica – excelentes cenas de ação, perfeito encadeamento das cenas com uma uma montagem competente que mantém o ritmo da narrativa mesmo com um roteiro tão intrincado – Tropa de elite 2 é um filme pessimista. O vilão é o Estado, pois os políticos são os condutores deste. Clássico.

6 comentários:

Unknown disse...

muito bom seu blog bem escrito e organizado parabens
http://www.lcsonline.blogspot.com
ja to te seguindo
abraço
luis

Amigas disse...

Achei otimo o comentario sobre o filme , principalmente quando vc cita que o vilão é o estado bem parecido com a nossa realidade... rs

Cristiano Contreiras disse...

Seu blog sempre ótimo, caro! e obrigado por seguir no twitter o Apimentário!
eu sigo você com meu twt pessoal também, abraço

Anônimo disse...

Concordo com sua critica. Apesar de alguns detalhes de ficção em demasia, mto daquilo é a nossa realidade, e possui uma complexidade mto maior do que só resolver tudo com o saco plastico, rs...

Wagner moura esta excelente no papel, e este é um dos roteiros mais bem elaborados que já vi sair do cinema nacional. Mto bom mesmo.

Abs!

Fermina Daza disse...

Oláá!

Não vi o filme ainda. Mas sua crítica foi fantástica! Adorei ter passado por aqui hoje. Vc sempre tão bom com as pelavras...

Beijinhos,

Cristiano Contreiras disse...

Olá, Bruno

Sou publicitário e faço jornalismo.

Você tem msn? abraço