sexta-feira, 18 de junho de 2010

Educação

Direção: Lone Sherfig


Roteiro:Nick Hornby, baseado nas memórias de Lynn Barber

Os desejos individuais afloram com intensidade no final da adolescência. Nesse período surge a necessidade de escolher uma carreira profissional e, em casos específicos, encontrar a pessoa certa para se apaixonar e viver uma história feliz emocional e financeiramente. Nem sempre o que se deseja é aquilo que a sociedade estabelece como importante ou ‘correto’. A oposição entre as aspirações pessoais e a educação familiar, escolar ou mesmo do contexto social de uma época é o tema principal do filme Educação da diretora Dinamarquesa Lone Scherfig, um drama sensível e envolvente.


O bom roteiro de Educação traz ao espectador a historia de Jenny( interpretada pela bela Carey Mulligan) uma jovem de 16 anos inteligente,culta que adora música e literatura francesa. Mas é entediada com a vida em um ambiente marcado pela cobrança do pai( Alfred Molina) que sonha em vê-la matriculada em Oxford, e o excesso de formalidade e sisudez do colégio. Certo dia conhece David (Peter Sarsgaard), um homem mais velho que apresenta para ela um mundo novo, com concertos de música clássica, leilões de arte e viagem para França. Lenny deixa a vida monótona, conservadora e embarca num universo sofisticado, com possibilidades de desfrutar do conteúdo artístico que gosta além de boas bebidas e cigarros franceses. As frustrações, no entanto, também fazem parte do pacote desse novo estilo de vida no qual a adolescente é inserida e a atriz Carey Mulligan representa com sensibilidade, uma menina que apesar da maturidade e inteligência ainda sofre com as angústias e dúvidas típicas da idade. É uma garota que se sente velha mas não muito sabia, como bem define em determinada passagem.


Os personagens secundários são um dos pontos fortes do filme com coadjuvantes sempre competentes. Peter Sarsgaard encarna um homem sedutor, educado, gentil mas cínico e que em alguns momentos destrata Jenny, o que põe em dúvida a devoção dele com a garota. Um personagem dúbio, sempre interessante. Alfred Molina está brilhante como um pai exigente, retrógrado e de opiniões machistas e antiquadas mas ao mesmo tempo afetuoso e sensível com a filha, o excelente trabalho do ator não caricaturiza o personagem e o transforma em uma figura sensível e até mesmo comovente.

Belas músicas, e uma fotografia com cores frias ao representar a atmosfera careta da casa de Lenny e um belo azul nas cenas na França, ajudam a compor um filme coerente com a sua proposta.


Deslumbramentos, dúvidas e decepções estão presentes em todas as fases da vida, mas na adolescência esses sentimentos são mais intensos. A rigidez formal de uma sociedade hipócrita e presa à convenções – na qual a diretora repreende a aluna por saber que ela namora um judeu ou vai se casar– é um dos fatores que desencadeiam o inconformismo da jovem. Em Educação, no entanto, Jenny aprende que a felicidade não chega tão facilmente quanto parece. Não bastam livros e músicas francesas.

domingo, 13 de junho de 2010

Onde vivem os monstros

Direção: Spike Jonze
Roteiro: Spike Jonze e David Eggers baseado no livro de Maurice Sendak.

Max é um menino de imaginação fértil que corre atrás do cachorro como se fosse um guerreiro e esconde-se dentro de uma casa de neve no intuito de proteger- se contra os inimigos; mas também é rebelde e sempre contesta o ambiente no qual está inserido. Ele encontra no imaginário um lugar repleto de oportunidades para tornar-se aquele que gostaria de ser, um rei. Max é uma criança como tantas outras, alegre, criativo e ao mesmo tempo contestador, raivoso, que faz birra com a mãe

Spike Jonze ( Quero ser John Malkovich, Adaptação) tem mais um trabalho excêntrico em sua filmografia.O filme Onde vivem os monstros(2009) é um mergulho no universo psicológico infantil, no qual as crises existenciais típicas de um garoto de 9 anos são representadas por um mundo paralelo repleto de monstros . Quando Max acorda num ambiente onírico habitado por criaturas peludas, grandes, e com características diferente s entre si – alguns são dóceis, carinhosos, outros mal humorados, agressivos, mas todos muito brincalhões e transgressores –, ele percebe que ali existe um grupo de ‘’seres’’ que o entende, ao contrário da pacata e entediante vida real, a vida dos adultos frios, distantes e indiferentes. Max entra em contato consigo mesmo.

Em Onde vivem os monstros o ex diretor de videoclipes Spike Jonze pontua muitas seqüências com músicas e o ritmo lembra o de um clipe musical dramático com planos próximos em expressões faciais dramáticas, uso da câmera lenta, e a câmera na mão em cenas de perseguição, como naquela que Max desce as escadas atrás do animal. O resultado dessa proposta é positivo, devido ao roteiro e à direção segura e competente, que é coerente ao guiar a história e os conflitos através do inocente olhar de Max. A fotografia e direção de arte compõem o cenário fantástico da historia com maestria. Os monstros e todo cenário são magistrais. Belos planos com árvores, galhos secos e dunas preenchem o filme.

Em suma, Onde vivem os monstros exibe a viagem de um garoto em busca da consciência das limitações e dos poderes que irão guiá-lo no mundo real, ou seja, é uma jornada rumo ao amadurecimento. Ele aprende que os monstros que existem dentro de nós têm muito a nos dizer, e todo aprendizado surge através da reflexão.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Pagando bem que mal tem.


Dois amigos de infância descobrem o vínculo amoroso na fase adulta. Eis um tema que fatalmente renderia uma comédia romântica açucarada como tantas outras, no entanto ,o filme Pagando bem que mal tem de Kevin Smith supera o lugar comum com boas doses de escatologia e os habituais diálogos “indecentes” da obra do diretor, a qual inclui títulos como Dogma e Procura-se Amy.

E vamos ao filme.Os amigos Zack( Seth Rogen) e Miri (Elizabeth Banks) dividem um apartamento decadente e estão atolados em dívidas. Para pagar as contas, além da luz e a água cortados em virtude de atrasos no pagamento, decidem gravar um filme pornô. Ambos convidam alguns amigos tão ( ou mais ) insanos para atuarem nesses filmes. A ‘filmografia’ roteirizada por Zack com títulos inspirados em clássicos do cinema e as cenas de sexo explícito desajeitado são engraçadíssimas.

No primeiro ato o humor escrachado com diálogos sacanas e ,obviamente, politicamente incorretos predominam na apresentação dos personagens . Zack é funcionário de uma lanchonete pouco freqüentada, preguiçoso e desbocado, bem interpretado por Seth Rogen , ele é responsável pelas principais seqüências cômicas, como no momento pelo qual corteja a recepcionista de uma festa esbanjando seu senso de humor peculiar; ou na conversa com um personagem( este aparece pouco mas considero um dos mais engraçados do filme) que revela-se ator de filme pornô gay. Aliás, vale destacar a sequencia em que o ‘ator’ discute a relação com o namorado.

Miri revela-se igualmente desajustada, bebe exageradamente e em determinado momento tenta um galanteio forçado e vulgar com um rapaz o qual se sente sexualmente atraída. Minutos depois, ao saber a profissão do rapaz, ela fica frustrada e vai beber.

O filme tem leve mudança de tom no segundo ato, pois a história ganha contornos românticos, com o inevitável enlace amoroso entre os protagonistas após a primeira transa. O enredo torna-se previsível mas sem escapar para o pieguismo, graças a boa safra de coadjuvantes que não deixam os aspectos non sense sumirem. Reparem na cena da ‘prisão de ventre’.

Em tempos de baixa no gênero, Pagando bem que mal tem é uma comedia que une o humor escatológico ao romance. E tem êxito.