quinta-feira, 2 de julho de 2009

Sim Senhor (2008)


Sim Senhor

Direção: Peyton Reed


Roteiro: Jarrad Paul, Andrew Mogel e Nicholas Stoller, baseado em livro de Danny Wallace




Após um bom tempo longe do gênero que o consagrou, seria bom ver o Jim Carrey em mais uma comédia com todas as caretas e trejeitos que o astro conquistou o direito de exibir em filmes como ‘ O máscara’ ‘ Debi e Lóide e ‘Ace Ventura’. Infelizmente, seu novo filme, Sim Senhor, é bastante irregular e não funciona nem mesmo como uma comédia ‘assumidamente idiota’.


Jim Carrey é o pessimista e baixo astral Carl Allen, que decide aderir ao princípio de um programa de auto-ajuda que consiste em dizer ‘Sim’ para tudo e qualquer coisa. O amargo Carl se transforma numa pessoa ‘positiva’ e simpática, que chega ao ponto de dá carona a um mendigo até um local distante e ainda permiti-lo falar no seu celular até a bateria do aparelho descarregar. Ele também se apaixona por uma garota aventureira, que se diverte correndo todos os riscos possíveis, e passa aceitar todos os tipos de convite que antes recusava. O inegável talento de Carrey não impede os tropeços do filme, que insiste nas convenções do gênero e nos personagens que já não são engraçados, estão presentes os ‘ escorregões espalhafatosos, a velhinha tarada que usa dentadura, e o amigo( nesse caso o chefe de Carl) bobo e sem graça.


Além disso a narrativa não flui, pois o roteiro não oferece muitas situações, que justificam o atual estado de Carl, com a comicidade necessária. Durante um encontro com os amigos num bar, por exemplo, Carl paga cerveja para todos, fica bêbado e arranja briga com um brutamente ao beijar a namorada dele. A cena da briga se revela artificial, longa e jamais engraçada. Em outra situação,o protagonista enche o rosto de durex e faz caretas, o sentido dessa cena existir não fica claro, a impressão imediata é que ela está ali simplesmente para avisar "Tacharam Jim Carrey está de volta" . O filme é despretensioso sim, mas o abuso de lugares-comuns e a artificialidade do roteiro dificultam o seu principal objetivo, fazer rir.


Sem os divertidíssimos apelos non sense de produções passadas, com um roteiro insosso e burocrático que jamais explora as situações engraçadas( ou que deveriam ser) com inspiração ‘ Sim senhor ‘ é uma comédia que não consegue, ao menos, ser idiota. Em se tratando de um filme com Jim Carrey, isso não é nada bom.

terça-feira, 9 de junho de 2009

O Lutador ( 2008 )

O Lutador( The Wrestler) – 2008
Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Robert D Siegel

Após uns 10 minutos numa locadora , uma mulher entra agitada e esbraveja­: __ Esse filme é muito ruim; ninguém lá em casa conseguiu assistir, um foi para o computador, outro saiu de casa. Ao prestar atenção ao filme que ela entregara, visto que fiquei curioso com a ofensiva exagerada, constato que ela estava se referindo ao excelente ‘O lutador’.

Na maioria das cenas de ‘ O lutador’ a câmera segue atrás do protagonista, plano que sugere a sua iminente entrada apoteótica num ringue . Infelizmente, o outrora famoso Randy Carneiro( Mickey Rourke), hoje ganha míseros trocados em lutas sem glamour e sofre com o ostracismo. O drama do diretor Darren Aronofsky( Réquiem para um sonho) conta de forma sensível, a comovente história de um homem apaixonado por lutas, mas sem força mental para superar as mudanças amargas dos novos tempos. Ao sofrer um infarto e ficar impossibilitado de lutar, Randy busca um rumo para a nova etapa da sua vida. Longe dos ringues; ele busca afeto na dançarina Cassady ( Marisa Tomei) e na filha Stephanie( Evan Rachel Wood) que tinha abandonado.

O roteiro de Robert D Siegel, oferece situações que deixam clara a indiferença, e o desprezo que as pessoas do contato diário têm com o ex astro; ao chegar no escritório de um gerente de supermercado e pedir emprego; Randy é obrigado, de forma humilhante, a voltar e bater na porta antes de entrar. Em outra situação, que demonstra o perfil anacrônico do protagonista, ao jogar vídeo game com ele, um garoto reclama que o jogo é “ tão antigo” e prefere um da guerra do Iraque. A brilhante interpretação de Mickey Rourke, faz com que o imponente Randy, que pouco sofre ao ter grampos tirado do corpo ensangüentado após uma luta encenada; seja ao mesmo tempo um homem carente, fragilizado e inseguro.

Apesar do bom encaixe de situações, que ilustram bem o perfil psicológico de Randy e o desencadeamento dos fatos, o roteiro peca ao focar de forma superficial a sua relação com a filha, e cai no clichê da ‘’filha que reclama do pai que falta aniversários’’. A pequena falha não compromete a narrativa, a atuação de Mickey e o bom roteiro ( apesar do deslize) impedem que o filme se transforme num dramalhão. Além disso, vale ressaltar o primor da fotografia escura e granulada que permite a perfeita visualização do ambiente desagradável e sujo que os personagens estão inseridos; a dançarina de boate, pela qual se apaixona, trabalha para garantir sustento ao filho mas não está feliz na atividade profissional.

A escolha dos planos e excelentes imagens, na comunhão da fotografia com a direção, são eficazes para compor a narrativa. Os planos fechados em imagens fortes e violentas durante as lutas, quando por exemplo Randy corta o próprio supercílio para tornar o show no ringue mais atrativo, se contrapõem ao close em seu rosto, quando chora num encontro com a filha; o que exibe o complexo ‘ estado de espírito do protagonista em duas situações distintas.

O diretor Darren Aranofsky, tem mais um belo trabalho em seu currículo, mas isso não seria possível sem o excepcional Mickey Rourke. Seu personagem é arremessado em cima de arame farpado, toma socos e pontapés enquanto está no chão banhado de sangue mas garante que o único lugar onde se machuca é fora do ringue. O melhor de tudo é que ele nos convence disso.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Ponto Final - Match Point


Ponto Final - Match Point (2005)
Direção e roteiro: Woody Allen


Um drama romântico com casamento, juras de amor e traição. Um suspense com referências ao clássico Crime e Castigo de ‘ Dostoievesky’. Sim, estou falando do mesmo filme. O irresistível Ponto final – Match Point , primeiro longa de Woody Allen rodado na Inglaterra, tem como protagonista Chris(Jonathan Rhys Myers),ex jogador de tênis, um jovem competitivo e ambicioso que passa a frequentar a alta sociedade inglesa. Ele se casa com Chole( Emile Mortiner) mas se apaixona por Nole( Scarlett Johansson), noiva do seu melhor amigo.


Na primeira cena do filme uma bola de tênis, em plano fechado na bola e na rede, passa de um lado para o outro da quadra, destaque para o eficiente uso da câmera lenta que reforça a mensagem que o diretor quer passar, ao bater no topo da rede ela cai para um dos lados da quadra, e determina o ponto para um dos jogadores. Pode-se dizer que Chris teve a ‘ sorte grande’ ao ter como esposa uma mulher rica e conseqüentemente um excelente emprego na empresa do sogro. Mas ele não resiste à beleza e sensualidade de Nole e se apaixona por ela. A sorte ou o azar que são, muitas vezes, determinantes numa partida de tênis, servem para guiar a vida real. Chris acredita nisso, mas não espera que ela caia do céu. A cena em que ele joga tênis de mesa com Nole, que pouco domina o jogo, e rebate a bola com extrema força ilustra bem o perfil competitivo do protagonista. Ele não aceita perder. O diretor repete na mesma cena por pouquíssimos segundos, o mesmo plano fechado na bola e na rede, o que reforça à analogia entre sorte e azar serve e como pista para um momento importante do final.


Além de caprichar na escolha de planos e movimentos de câmera que são determinantes para revelações importantes - vale ressaltar que o plano detalhe no livro ‘Crime e Castigo’ não acontece por acaso - o filme tem uma bela fotografia, com tons que variam do amarelo do verão londrino ao azulado e branco do inverno. Em duas situações em que Chris e Nole estão juntos, o plano fechado na janela é o mesmo, mas enquanto em um dia chove no outro neva. Além da plasticidade, a cena é importante do ponto de vista narrativo pois estabelece a passagem de tempo de forma sutil.


O brilhante roteiro de Woody Allen foca, inicialmente, no dilema do personagem central; ele está divido entre estabelecer uma relação segura com a esposa metódica( e,mais uma vez, rica), que tenta engravidar a todo custo, e a paixão avassaladora pela amante. No último ato a história ganha um rumo surpreendente. Novamente o perfil competitivo de Chris vem a tona e após a decisão que o faz pôr fim ao dilema pessoal, a história ganha tons de um bom suspense psicológico.


Outra vez temos a oportunidade de assistir mais um belo trabalho de Woody Allen. Personagens interessantes, belas paisagens, e um roteiro complexo, porém coeso ilustram o filme. Em Ponto Final – Match Point, a sorte está em jogo. A oportunidade de a bola cair no lado certo existe. No entanto, assim como numa partida de tênis, na vida real é necessário ter talento para o êxito e, acima de tudo, fazer as escolhas certas.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Um flerte com a literatura



De Vampiro a Saci – O Universo fantástico de André Vianco.



Quando era atendente de uma empresa de cartão de crédito, André Vianco tinha como hobby escrever nas horas vagas. Hoje, é um autor de sucesso e figura reconhecida no gênero literatura fantástica onde os protagonistas são vampiros, anjos decaídos, e até mesmo personagens do folclore brasileiro como Curupira, Boitatá ou uma versão Hi –Tech do Saci.Numa entrevista concedida antes de sua palestra no ‘ Papo Gama’, evento realizado pela empresa Gama JR na Universidade Gama Filho da Barra, o autor de ‘ Os sete’, ‘ O Senhor da Chuva’ e do mais recente ‘ O caminho do poço das lágrimas’ comenta, dentre outros assuntos, de onde tira inspiração para escrever suas histórias, as inevitáveis comparações com o autor Stephen King e a otimista incursão no mundo do cinema.


· Entregador de Pizza aos 14 anos, redator de rádio aos 16, atendente de empresa de cartão de crédito. Pelo visto as reviravoltas não estão presentes apenas nos seus romances, mas também na sua vida. Como foram essas reviravoltas?
Foi de certa forma tranquilo, porque nunca me limitei a um momento. Eu sabia onde eu queria chegar, eu sabia que queria ser escritor, ligado a essa área de entretenimento, de arte. Aos 16 eu fiz uma entrevista na radio jovem pan e por ser menor de idade elas não queriam receber o meu teste. Mas alguém leu o que eu tinha escrito e disse, ‘’chama esse cara pra trabalhar com agente’’ai comecei a trabalhar com jornalistas da Jovem Pan fm. No final de semana eu fazia plantões, ai conheci o pessoal da am e o método de trabalhar da am, desde então minha paixão por letras foi crescendo. Quando comecei a trabalhar na empresa de cartão de créditos, ao chegar em casa meu hobby era escrever. Continuei escrevendo historias, no fundo no fundo, tendo publicado ou não eu sabia que seria um escritor. Acabei publicando livros com meus próprios meios e com isso fiz sucesso. Com divulgação de ‘boca a boca’ meus livros começaram a vender bem, a partir daí uma editora se interessou.

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Você já afirmou que é eclético, gosta de vários gêneros literários. O que mais te fascina na literatura fantástica para você ter optado pelo gênero ?
O que mais me fascina é o mistério e o inexplicável, eu queria fazer parte disso. Tem alguns mestres, o Stephen king, aqui no Brasil o Monteiro Lobato o Loyola Brandão que é um cara do realismo fantástico, tenho muitas fontes também do cinema. Sou um apreciador de histórias de fantasia e terror do cinema. As coisas se cruzam, hoje no Brasil é muito próximo a carreira de escritor e a de roteirista de cinema diferente daquele padrão norte-americano bem sindicalizado e segregado.


“ Quando comecei a trabalhar na empresa de cartão de crédito, quando chegava em casa meu hobby era escrever”


· Além das notícias do Jornal Nacional, que você falou que serviram de inspiração para escrever o livro ‘Sementes de Gelo’,o que mais te inspira na idealização de fantasmas, vampiros e anjos em terras brasileiras ?

O dia a dia, não tem uma fonte precisa. As vezes uma conversa de boteco, o jeito que a pessoa fala, o contato com telejornais, documentários. A mente do escritor é uma esponja acaba absorvendo, uma hora existe uma sinapse, uma ligação das coisas dá um estalo e você fala “ ah tem uma história assim “

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As lendas urbanas também são importantes
De certa forma sim, o brasileiro gosta muito do caos, gosta muito deu ma lendinha e a gente tem um folclore muito rico ai as coisas acabam se desdobrando assim. Apesar da maioria dos meus livros serem sobre vampiros, as historias se passam no Brasil . Em muitos deles você encontra elementos fantásticos do folclore brasileiro como o Boitatá o Curupira o Saci, mas não aquele Saci da escola tal, mas de outro jeito com uma repaginada, versão 2000. É importante, também, alem de não esquecer a nossa fé não esquecer as nossas lendas.


“ A mente do escritor é uma esponja”


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Você gosta de ser comparado com o Sthepen King?
Não me importo, mas depende como a pessoa compara, algumas pessoas são maldosas outras já enxergam o que há de bom nessa similaridade, que acho que é mais de gênero que de método ou de forma. Não me incomoda porque ele é um grande mestre de fantasia, de drama, de mexer com sentimento que é o que busco, não é só um cara do terror.

· Você já leu Crepúsculo ?
Não li, assisti o filme.

· Gostou?
Com reservas, pra mim funciona muito bem porque as pessoas lêem o livro da Stephenie Meyer e acabam procurando outros livros de vampiro, mas eu acho que é bem adolescente, bem água com açúcar, mas é o estilo dela e do público leitor dela. Sucesso, parabéns e só está me ajudando.

· Levantar fundos para produzir um filme no Brasil não é fácil, mas você deseja transportar suas narrativas para o cinema inclusive já roteirizou ‘A Casa’ que está em ‘pré-produção’. Como está sendo sua entrada no universo cinematográfico?
A passos lentos, mas eu acredito que vai ser muito parecido com minha entrada na literatura, devagar porém pontual. Quando eu tiver fazendo cinema as pessoas vão prestar mais atenção nas historias e vão falar ‘’ ah quero fazer outro ‘’ como a editora novo século fez.. É bem difícil angariar verbas para uma produção de mainstreen mas eu não tenho nada contra as fitas de baixo orçamento. Então o meu caminho vai ser esse.

· Apesar dos muitos obstáculos você ainda acredita que seu sucesso na venda de livros se repetirá no cinema?
É Imprevisível, mas eu levo fé, como levei na literatura ,que vai acontecer. Na literatura eu tive uma surpresa gigantesca. Não imaginava que em tão pouco tempo fosse alcançar tantos leitores e no cinema tem uma vantagem de alcançar mais pessoas. Normalmente quando você vai ao cinema você não vai sozinho. Você chama a namorada, ou os amigos. Vai alcançar mais gente, eu não tenho medo do público, meu medo é conseguir colocar isso na mídia certa e chegar para o cinema.

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Você já participou de eventos em várias cidades de São Paulo,Fortaleza , aqui no Rio. Como você avalia, pelo contato pessoal, a relação do público com a sua obra?
É muito quente, muito próxima e surpreendente as pessoas levam 3, 4 , 10 livros para serem autografados. Tem uma paixão pelo que está escrito ali, são mais que leitores são fãs do autor. Eu não imaginava que ia ser assim. A receptividade dos leitores é muito grande, é muito bacana.