terça-feira, 6 de abril de 2010

Faixa de areia

Faixa de Areia

Dia desses zapeando os canais da NET paro no canal Brasil, e vejo que passa um documentário sobre praias. Com sorte, observo que acompanho os créditos iniciais. Comemoro. Vou assistir ao programa inteiro, era o que eu mais queria naquele momento. O documentário em questão se chama Faixa de areia.


O filme das diretoras Flávia Lins e Silva e Daniela Kallman extrai diferentes pontos de vista dos entrevistados sobre a ida a esse espaço entre o asfalto e o oceano. E os tipos são muitos. Casais que se conheceram e estão juntos até hoje, vendedor de quitutes que comprou casa e paga o estudo dos filhos com o lucro dos dias de sol, patricinhas que vão paquerar e ser paqueradas, playboys ,gays. Do leme ao pontal a idéia é interagir e se divertir.


Na fala dos entrevistados uma idéia persiste. A praia é um espaço democrático. É lá onde ricos e pobre se misturam com o mesmo propósito. Bebem, comem, riem, tomam banho de mar, pegam jacaré. A entrada é franca, não existe muro de concreto para separar os granfinos da Avenida Atlântica e Vieira Souto da ''massa'' que vem do subúrbio ou da baixada. Mesmo sem a presença de uma barreira física, no entanto, é evidente a divisão entre os vários tipos que freqüentam o lugar. Cada tribo tem o seu espaço, os gays no posto 9 de Ipanema, os mauricinhos e patricinhas no posto 10, os suburbanos no outro lado, de preferência longe.


Na praia do Flamengo, uma mulher elogia o local por ser tranqüilo e ter muitas famílias; quando questionada se a incomodaria se ônibus vindo do subúrbio parassem naquele ponto, ela foi enfática: " incomodaria sim''. A moça reclamou que seria ruim dividir o espaço com pessoas sem educação e crianças que correm jogando areia para todo lado. Ela com uma sinceridade assustadora ainda levantou uma questão. '' não tem o piscinão de Ramos? Por que eles não vão para lá?''.


De maneira sutil, sem esbarrar no clichê hipócrita e politicamente correto do ''rico opressor x massa trabalhadora oprimida e discriminada'', 'Faixa de Areia' convida o espectador para uma reflexão. Afinal, até que ponto a praia é um ambiente democrático? Pode ser considerado democrático um lugar cuja população rica, instruída se divide daquela com renda (status quo ) inferior por não compreender e (ou) não aceitar seus hábitos?


Não existe maniqueísmo em ' Faixa de Areia' ; antes de mais nada ele faz uma ode às belas praias do Rio de Janeiro desde as famosas e badaladas Copacabana, Ipanema,Arpoador e Barra até a belíssima e quase deserta Grumari. Em um espaço heterogêno, as diferenças sociais e ideológicas existem e são evidenciadas com a proximidade e o contato humano, quando os conflitos vem à tona. As documentaristas filmam, e observam esta interrelação com sábio distanciamento. Belo documentário esse Faixa de Areia.

Veronika decide morrer


Veronika decide morrer ( 2009 )Direção: Emily YoungRoteiro: Larry Gross, Roberta Hanley.
Algumas adaptações para o cinema são fiéis aos livros e costumam agradar aos fãs das obras literárias - que insistem na idéia equivocada de compará-las com o filme, como se existisse a possibilidade de um livro ser melhor que o filme ou vice versa - outras são polêmicas, não são tão fiéis o que não quer dizer que sejam ruins. Ainda não li ‘Veronika Decide Morrer’ do Paulo Coelho, mas o filme da diretora Emily Young, carece de uma protagonista talentosa, um bom roteiro e direção competente. Resultado: Eis uma adaptação que não funcionou.

Veronika( Sarah Michelle Gellar) é uma bela jovem, com um bom emprego e que mora num confortável apartamento em Nova York. Porém ela não é feliz, julga a vida que leva como previsível, sem sentido. Certa noite, ao chegar em casa, toma uma overdose de medicamentos. Ao acordar num hospital psiquiátrico aos cuidados do doutor Blake (David Thewlis), descobre que terá poucos dias de vida.
Sarah Michelle Gellar provou ser incapaz de garantir o peso dramático suficiente ao personagem; além de inexpressiva e de sempre lançar o olhar sedutor quando dialoga com alguém do sexo masculino ( tudo bem que ela é gostosinha, mas cá pra nós ela não está em ‘ Segundas Intenções’) ela é responsável por uma das cenas mais constrangedoras do filme, quando se masturba tocando piano enquanto flerta com Edward( Jonathan Tucker), rapaz até então mudo devido um trauma no passado. A seqüência revela-se apelativa e beira o vulgar justamente pelas caras e bocas inadequadas da loirinha.

Além disso o filme se perde por conta do roteiro fraco que não explora os coadjuvantes ao ponto de nos convencer que são importantes no processo de melhora da saúde mental da protagonista, o que o filme tenta propor sem sucesso. O romance entre Veronika e Edward revela se artificial, assim como o contato frio e breve com o psicanalista. Os diálogos expositivos estão presentes em algumas situações; naquela a qual Veronika descobre algo importante sobre Edward – o que acabamos de descobrir segundos antes, e no momento da conversa com o doutor Blake após a cena do piano.

A narrativa ainda encontra outros empecilhos que somam pontos negativos. O uso de planos abertos na clínica psiquiátrica é exagerado, bastava filmar a fachada do local uma vez, mas a diretora parece que quer nos lembrar a todo momento que ali funciona a tal clínica. Metáforas clichês como a da ‘ pessoa afundando na água’ para simbolizar algo negativo’ e no sol nascente como mostra de esperança, e de que ‘ bons tempos que estão por vir’ também poderiam ser evitadas.
Não foi dessa vez que uma obra do mago pop star literário teve uma adaptação representativa no cinema.