terça-feira, 9 de junho de 2009

O Lutador ( 2008 )

O Lutador( The Wrestler) – 2008
Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Robert D Siegel

Após uns 10 minutos numa locadora , uma mulher entra agitada e esbraveja­: __ Esse filme é muito ruim; ninguém lá em casa conseguiu assistir, um foi para o computador, outro saiu de casa. Ao prestar atenção ao filme que ela entregara, visto que fiquei curioso com a ofensiva exagerada, constato que ela estava se referindo ao excelente ‘O lutador’.

Na maioria das cenas de ‘ O lutador’ a câmera segue atrás do protagonista, plano que sugere a sua iminente entrada apoteótica num ringue . Infelizmente, o outrora famoso Randy Carneiro( Mickey Rourke), hoje ganha míseros trocados em lutas sem glamour e sofre com o ostracismo. O drama do diretor Darren Aronofsky( Réquiem para um sonho) conta de forma sensível, a comovente história de um homem apaixonado por lutas, mas sem força mental para superar as mudanças amargas dos novos tempos. Ao sofrer um infarto e ficar impossibilitado de lutar, Randy busca um rumo para a nova etapa da sua vida. Longe dos ringues; ele busca afeto na dançarina Cassady ( Marisa Tomei) e na filha Stephanie( Evan Rachel Wood) que tinha abandonado.

O roteiro de Robert D Siegel, oferece situações que deixam clara a indiferença, e o desprezo que as pessoas do contato diário têm com o ex astro; ao chegar no escritório de um gerente de supermercado e pedir emprego; Randy é obrigado, de forma humilhante, a voltar e bater na porta antes de entrar. Em outra situação, que demonstra o perfil anacrônico do protagonista, ao jogar vídeo game com ele, um garoto reclama que o jogo é “ tão antigo” e prefere um da guerra do Iraque. A brilhante interpretação de Mickey Rourke, faz com que o imponente Randy, que pouco sofre ao ter grampos tirado do corpo ensangüentado após uma luta encenada; seja ao mesmo tempo um homem carente, fragilizado e inseguro.

Apesar do bom encaixe de situações, que ilustram bem o perfil psicológico de Randy e o desencadeamento dos fatos, o roteiro peca ao focar de forma superficial a sua relação com a filha, e cai no clichê da ‘’filha que reclama do pai que falta aniversários’’. A pequena falha não compromete a narrativa, a atuação de Mickey e o bom roteiro ( apesar do deslize) impedem que o filme se transforme num dramalhão. Além disso, vale ressaltar o primor da fotografia escura e granulada que permite a perfeita visualização do ambiente desagradável e sujo que os personagens estão inseridos; a dançarina de boate, pela qual se apaixona, trabalha para garantir sustento ao filho mas não está feliz na atividade profissional.

A escolha dos planos e excelentes imagens, na comunhão da fotografia com a direção, são eficazes para compor a narrativa. Os planos fechados em imagens fortes e violentas durante as lutas, quando por exemplo Randy corta o próprio supercílio para tornar o show no ringue mais atrativo, se contrapõem ao close em seu rosto, quando chora num encontro com a filha; o que exibe o complexo ‘ estado de espírito do protagonista em duas situações distintas.

O diretor Darren Aranofsky, tem mais um belo trabalho em seu currículo, mas isso não seria possível sem o excepcional Mickey Rourke. Seu personagem é arremessado em cima de arame farpado, toma socos e pontapés enquanto está no chão banhado de sangue mas garante que o único lugar onde se machuca é fora do ringue. O melhor de tudo é que ele nos convence disso.

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