domingo, 17 de outubro de 2010

Proibido fumar

Direção: Anna Muylaert
Roteiro: Anna Muylaert


Crônicas cotidianas são corriqueiras no cinema nacional. Em várias oportunidades surgem filmes com a proposta de retratar histórias de um ‘microcosmo social’ presente em uma cidade pequena, média ou em uma megalópole como São Paulo, revelando nuances do comportamento de pessoas. O convincente ‘Proibido Fumar’ da diretora Anna Muylaert insere se nessa linha ao abordar a história de uma professora de violão fumante que se apaixona pelo novo vizinho.



Baby (Glória Pires) é uma dona de casa estressada, que briga com a irmã por causa de um sofá que pertenceu a uma tia falecida e discute com a outra irmã (e vizinha de porta) por qualquer motivo aparente. Ela fuma vários cigarros por dia, o que de certa forma a tranquiliza. A personalidade turbulenta da moça ansiosa, que enquanto muda os canais da TV ( todos, ironicamente, com programas que incentivam o cuidado com a saúde) fuma um cigarrinho com ar de impaciência, é bem representada por Glória Pires, a atriz se entrega no papel e tem êxito com uma caracterização que faz jus à sua experiência em cena. O panorama ganha novos contornos quando Baby conhece o músico Max( Paulo Miklos) e por ele se apaixona. Max é um desses músicos de restaurantes cujo público não lhe confere devida atenção. Com a afinidade inicial, Baby resolve abandonar o cigarro e acredita na probabilidade viver um amor bonito e saudável. É revelado, então, o ponto alto do filme. O olhar cínico sobre relacionamentos.




Max não representa o ideário de um gentleman comum em comédias românticas ou romances clássicos. Apesar de mostrar-se carinhoso, dedicar uma música para Baby em uma de suas apresentações na noite paulistana, é um jeito que reclama do salmão oferecido no primeiro jantar a dois, por não conter molho e de quebra, elogia a habilidade da ex namorada( uma modelo de belas mãos) ao preparar o prato. As situações provocam rusgas no relacionamento com Baby, até então anestesiada com os primeiros acordes da ‘paixão’. Esses ganham respaldo com a química entre os atores.


Por outro lado, a inserção de uma reviravolta no decorrer da trama não funciona adequadamente, e soa artificial a tentativa de ambientar um suspense com o uso de câmeras de seguranças, e planos que sugerem que certo personagem está sendo perseguido. O roteiro explica o uso desses artifícios com situações posteriores, mas em relação à trama os mesmos revelam se dispensáveis.

O fato de Proibido fumar não ser amparado em um discurso anti (ou pró) tabagista reforça suas boas intenções. O cigarro aqui é visto (apenas) como válvula de escape para as vicissitudes do cotidiano; ao focar nos conflitos humanos dos personagens, mesmo que sem aprofundar, o filme acerta. Certas palavras, no entanto, deveriam ser remodeladas nesta “crônica”. Pelo bem do filme.

Um comentário:

Cristiano Contreiras disse...

Ainda não pude conferir. Preciso, ainda mais que sou fã dos trabalhos interpretativos da Gloria Pires.

Parabéns pelo blog!

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