sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Tetro

Roteiro e Direção: Francis Ford Copolla

Uma das instituições responsáveis ( talvez a mais responsável) para moldar o caráter de alguém é a família. Quando os critérios morais são deixados de lado na relação entre pais e filhos as conseqüências costumam ser nefastas. Depois da trilogia ‘Poderoso Chefão’, Francis Ford Copolla volta a destrinchar as nuances do ambiente familiar no excelente Tetro, filme pontuado por uma história densa e com aspectos visuais belíssimos.


No filme, Bennie (Alden Ehrenreich) viaja para Buenos Aires e reencontra o irmão Tetro (Vicente Galo) um ex escritor amargurado que insiste em esconder o passado, como ele mesmo diz, está “divorciado da família”. Tetro incomoda-se com a presença do irmão e com o fato do caçula investigar o seu passado. O bom roteiro de Copolla jamais vilaniza ou transforma o personagem Tetro em uma vítima indefesa; em determinado momento ele chama o irmão de ‘amigo’ na frente de uma garçonete e chama determinado amigo de ‘irmão’ na frente de Bennie, que fica claramente magoado com atitude insensível. O sujeito ranzinza, no entanto, revela-se carinhoso com a esposa, tem faro artístico – é admirado pelo irmão, pois costumava levá-lo para assistir ‘Sapatinhos Vermelhos’ no cinema, assim como óperas – e encontra-se claramente fragilizado devido ao misterioso passado que o atordoa.



A relação turbulenta entre Bennie e Tetro é personificada pelo excelente trabalho dos dois atores que compõem com eficácia a personalidade complexa e a inquietação dos personagens. O embate verbal entre eles é extremamente denso. (assim como discussões tão bem representadas na trilogia Poderoso Chefão e em Apocalipse Now )


Tecnicamente Tetro é impecável. O preto e branco da fotografia destaca belíssimas sombras que contribuem no destaque de semblantes dos personagens ( o detalhe me lembrou ‘Cidadão Kane’). Em determinada sequência, na qual Tetro discute com o irmão e a esposa, ambos aparecem no plano enquanto só a sombra de Tetro é mostrada. O plano possui beleza estética, e também é significativo no ponto de vista narrativo como metáfora, afinal aquele Tetro no momento da conversa esconde segredos, ele naquela ocasião expõe àqueles que convivem (e ao espectador) somente sua ‘sombra’, não a imagem verdadeira, não sua verdadeira alma. Em outro momento, o contraponto entre o vermelho de um vestido e o preto e branco, na cena de uma montagem teatral, se traduz numa bela cena.


É fato que o grande clássico da filmografia de Copolla é a trilogia Poderoso Chefão – com destaque para os dois primeiros – mas considero comparações infundadas, pois cada trabalho é responsável pela sua premissa. Tetro é um filme com densidade psicológica e um roteiro coeso com a estética intimamente relacionada à trama, o que não resulta num filme belo, porém vazio. Apesar de aparentemente não ter pretensões comerciais, não é um filme difícil, a narrativa é ágil e atrativa. Copolla entende de famílias conflituosas, e mais ainda, de cinema.
Crítica publicada no site: http://www.cinemanarede.com/

Um comentário:

Película Criativa disse...

Estou super curiosa para assistir esse filme. E também Youth Without Youth.