sábado, 4 de dezembro de 2010

Três Homens e uma Noite Fria


Rauno transborda em emoção ao cantar num karaokê, a letra da música diz “eu não invejo aqueles que tem uma vida dupla, as vezes acho que uma vida só é suficiente”. No filme ‘Três Homens e Uma Noite Fria’ do diretor finlandês Mika Karismäuki( da boa comédia O ciúme mora ao lado) três amigos com sérios problemas pessoais resolvem afogar as mágoas em um bar melancólico na véspera de Natal. A letra da canção traduz parte do drama desses homens em um filme não necessariamente triste. Rauno é um ator decadente e no leito de morte da esposa apanha do filho revoltado por desentendimentos do passado. Erkki é impossibilitado de ver o filho pela ex esposa e tem o interesse de “aprender a ser egoísta’’ para lidar melhor com as vicissitudes da vida. Marti vive as birras com a mulher mesmo quando ela está prestes a dar à luz.

O espírito natalino ‘contamina’ o filme, que não se distancia de outros dramas com temáticas natalinas em relação aos sentimentos propostos do período; como redenção, solidariedade, amizade, etc. A sequência das crianças cantando ‘Noite Feliz’é decisiva para que se possa notar uma atmosfera reconfortante mesmo quando situações inóspitas estejam no cerne da trama. O ‘lugar comum’, no entanto, não prejudica a obra. Três Homens e Uma Noite Fria é um filme agradável.



O tom opaco da fotografia que representa o rigoroso inverno do país escandinavo também preenche o aquecido bar freqüentado pelo trio e apesar do bom humor deles – garantido pelas generosas doses de Vodka, claro – as cores escuras ilustram a apatia e preocupação devido à angustia que os atormenta. O expressivo olhar de Erkki com terno e paletó igualmente escuros é representativo.


O número musical de cada um deles é, seguramente, um dos melhores momentos do filme. Cada música os representa de determinada forma e sintetiza as turbulências das suas vidas. Em determinado momento da apresentação de Marti ele declama com intensidade “você foi para outra cama”. Óbvia alusão ao fato de desconfiar (ou ter certeza) que fora traído pela esposa. As canções contribuem para a catarse de sentimentos. O dono do estabelecimento ao convocar a todo o momento uma nova apresentação, se transforma numa espécie de psicólogo, no qual ajuda o trio a expor os seus pesares, e o bar transforma-se num divã, ou uma espécie de “Associação de Desesperados Anônimos”. No desespero expresso nas letras das músicas, existe um fio de esperança. É Natal.


Assim como no recente O ciúme mora ao lado, Mika Karismäuki concebe um filme de bons personagens, diálogos inteligentes e situações curiosas. Apesar de ser um drama Três homens e Uma Noite Fria jamais desce ladeira a baixo no exagero melodramático. Este é um filme natalino, preenchido por sentimentos otimistas, solitários, agradáveis. No fundo do poço existe uma mola. Clichê? Sim, e daí?

Crítica publicada no site: http://www.cinemanarede.com/

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O cinema de Wong Kar Wai

Semanas atrás assisti alguns filmes da mostra Retrospectiva Wong Kar Wai na Caixa Cultural, e participei de um curso ministrado pela crítica de cinema Tatiana Monassa. Então, resolvi, postar um breve texto sobre o que foi apreendido da obra deste complexo cineasta. Apesar de não ter assistido todos os filmes dele, posso registrar minhas primeiras impressões:)


Aí vai..


No contato com um filme, o espectador se emociona ao mesmo tempo em que sua compreensão da obra está amparada na razão. A narrativa cinematográfica, na maioria das vezes segue uma ordem, um encadeamento dos fatos que exige compreensão analítica de quem assiste. E quando o (tal) encadeamento dos fatos praticamente inexiste? E quando a emoção dos personagens é o cerne, o dispositivo primordial no contexto fílmico? Esse é o cinema de Wong Kar Wai, cineasta nascido em Xangai e radicado em Hong Kong, cuja mostra foi exibida na Caixa Cultural, de 09/11 a 21/11. Foram exibidos 10 longas do diretor, além de debate e um curso sobre o cineasta com a crítica de cinema Tatiana Monassa.



Wong ganhou admiração e respaldo do público e crítica com um cinema inventivo, amparado em uma linguagem visual arrojada, na qual valoriza a câmera lenta, jump cuts (aceleração das imagens dentro de um mesmo plano, o que dá um efeito videoclip à cena) e cores vivas (muito néon). Tais recursos são cabíveis para explicitar a abstração de seus filmes, em voga devido à sua concentração em torno dos personagens, ou, para ser mais específico, da dor emocional e da angústia da existência dos personagens. Na obra de Wong a desilusão amorosa norteia a temática.

A dor da perda de um grande amor e a incapacidade de lidar com o mundo sem alguém especial ao lado são temas frequentes em seus filmes. Pode parecer brega – caso, principalmente, se levarmos em conta o machismo latino americano que ridiculariza o homem que sofre com a perda de alguém, o fulano com "dor de corno" etc – mas é um cinema basicamente emocional, sobre o amor. Personagens caminham num diálogo interior, fogem em busca de um recomeço, começam romances efêmeros para livrarem-se do passado infame...




Não existe preocupação com o roteiro (no sentido de contar uma história com ordem cartesiana e relação causa/efeito) nos filmes de Wong, eles não seguem a narrativa no sentido clássico. Como fora mencionado, o ordenamento lógico dos acontecimentos é secundário (ou talvez nulo), o estado de espírito dos personagens é o foco. Em Amores Expressos (1994) o policial lamenta o fim do relacionamento e come várias latas de abacaxi em calda, com a preocupação de que o prazo de validade da última lata coincida com a data do término, e questiona-se: “Será que algo no mundo não tem data de validade?”.

A relação metafórica com a comida é mostrada em Um Beijo Roubado (2007), único filme americano do diretor. O dono do bar (Jude Law) explica que a torta blueberry é a única que ao fim do dia está inteira, pois ninguém comprou uma fatia sequer. O personagem diz que não existe explicação para isso. É apenas sorte, casualidade.

Os paralelos com objetos físicos, tácteis – a comida, neste caso – é usada com frequência para exemplificar a relação entre os personagens. Em Amores Expressos, o cuidado do policial com o sapato da mulher que levou para o quarto, e, no mesmo filme, o zelo da garçonete com o apartamento do (também) policial do segundo conto.

Sem o convencionalismo que majoritariamente emperra os filmes sobre amor (sejam estes comédias ou melodramas), Wong Kar Wai ousa e confunde o espectador, com o turbilhão de imagens difusas que saltam na tela, e, numa leitura superficial, seus filmes podem ser considerados desconexos, lentos e até mesmo pretensiosos. A experiência cinematográfica, no entanto, é rica. E para cinéfilos (ou não cinéfilos) a importância da emoção é imensurável.
Texto publicado no site: http://www.cinemanarede.com

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Tetro

Roteiro e Direção: Francis Ford Copolla

Uma das instituições responsáveis ( talvez a mais responsável) para moldar o caráter de alguém é a família. Quando os critérios morais são deixados de lado na relação entre pais e filhos as conseqüências costumam ser nefastas. Depois da trilogia ‘Poderoso Chefão’, Francis Ford Copolla volta a destrinchar as nuances do ambiente familiar no excelente Tetro, filme pontuado por uma história densa e com aspectos visuais belíssimos.


No filme, Bennie (Alden Ehrenreich) viaja para Buenos Aires e reencontra o irmão Tetro (Vicente Galo) um ex escritor amargurado que insiste em esconder o passado, como ele mesmo diz, está “divorciado da família”. Tetro incomoda-se com a presença do irmão e com o fato do caçula investigar o seu passado. O bom roteiro de Copolla jamais vilaniza ou transforma o personagem Tetro em uma vítima indefesa; em determinado momento ele chama o irmão de ‘amigo’ na frente de uma garçonete e chama determinado amigo de ‘irmão’ na frente de Bennie, que fica claramente magoado com atitude insensível. O sujeito ranzinza, no entanto, revela-se carinhoso com a esposa, tem faro artístico – é admirado pelo irmão, pois costumava levá-lo para assistir ‘Sapatinhos Vermelhos’ no cinema, assim como óperas – e encontra-se claramente fragilizado devido ao misterioso passado que o atordoa.



A relação turbulenta entre Bennie e Tetro é personificada pelo excelente trabalho dos dois atores que compõem com eficácia a personalidade complexa e a inquietação dos personagens. O embate verbal entre eles é extremamente denso. (assim como discussões tão bem representadas na trilogia Poderoso Chefão e em Apocalipse Now )


Tecnicamente Tetro é impecável. O preto e branco da fotografia destaca belíssimas sombras que contribuem no destaque de semblantes dos personagens ( o detalhe me lembrou ‘Cidadão Kane’). Em determinada sequência, na qual Tetro discute com o irmão e a esposa, ambos aparecem no plano enquanto só a sombra de Tetro é mostrada. O plano possui beleza estética, e também é significativo no ponto de vista narrativo como metáfora, afinal aquele Tetro no momento da conversa esconde segredos, ele naquela ocasião expõe àqueles que convivem (e ao espectador) somente sua ‘sombra’, não a imagem verdadeira, não sua verdadeira alma. Em outro momento, o contraponto entre o vermelho de um vestido e o preto e branco, na cena de uma montagem teatral, se traduz numa bela cena.


É fato que o grande clássico da filmografia de Copolla é a trilogia Poderoso Chefão – com destaque para os dois primeiros – mas considero comparações infundadas, pois cada trabalho é responsável pela sua premissa. Tetro é um filme com densidade psicológica e um roteiro coeso com a estética intimamente relacionada à trama, o que não resulta num filme belo, porém vazio. Apesar de aparentemente não ter pretensões comerciais, não é um filme difícil, a narrativa é ágil e atrativa. Copolla entende de famílias conflituosas, e mais ainda, de cinema.
Crítica publicada no site: http://www.cinemanarede.com/

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Tropa de Elite 2

Direção: José Padilha

Roteiro: Bráulio Mantovani


No primeiro ‘Tropa de Elite’ a quase onipotência do BOPE era evidente. O “bom mocismo” (ênfase nas aspas) dos caveiras foi visto com bons olhos pelos espectadores, ávidos em repetir cada jargão do capitão Nascimento e companhia. O Batalhão de Operações Especiais da polícia do Rio de Janeiro parecia ser um antídoto contra a criminalidade. Quinze anos se passaram, e em Tropa de elite 2, a problemática não se estabelece apenas no confronto entre traficantes versus policiais, mocinho de um lado e um vilão feio, sujo e marginalizado do outro. O sistema corrupto cujos interesses políticos e econômicos são primordiais revelam uma sociedade(classe política, elite, classe média, etc) com valores espúrios. E para lutar contra essas adversidades não basta força física. Maduro, complexo e revelador, ‘Tropa de Elite 2’ está, certamente, entre os grandes filmes da história do cinema Nacional.

No filme, Capitão Nascimento (Wagner Moura, incrível) após uma mal sucedida operação em um presídio, passa a entregar a Secretaria de Segurança do Estado. Com seu perfil conhecidamente violento decide transformar o BOPE em uma máquina de guerra e expulsa traficantes de vários morros cariocas. O fato permite a ocupação desses morros por milicianos. Além dos problemas no trabalho, a vida pessoal de Nascimento encontra percalços na ‘distante’ relação com o filho e no confronto ideológico com Fraga, deputado Estadual com posições contrárias as dele, que é casado com sua ex mulher. O ator Wagner Moura mantém o tom viril, e sanguinário do Nascimento do primeiro filme, mesmo que não parta para o confronto físico, o ex Capitão ‘explode’ com surpreendente facilidade, o que fica claro em discussões ásperas com Fraga e o ex companheiro do BOPE Matias. O ator por outro lado, constrói um Nascimento, acuado, desiludido e inseguro ao, muitas vezes, ter que lidar com situações que jamais imaginara. Ter que confrontar um sistema corrupto, no qual o mesmo faz parte, como uma singela engrenagem.


Transformar o ‘super herói’ do primeiro Tropa de Elite em uma engrenagem do sistema é uma das principais virtudes do filme. Se antes as soluções pareciam pautáveis, hoje a complexidade dos problemas o atordoa, o diminui, e de certa forma, o humaniza. Como lutar contra grupos criminosos que atuam dentro do próprio Estado, da própria Secretaria de Segurança para proteger os milicianos que seriam úteis no processo eleitoral na conquista de votos para o Governador em questão? Como confrontar com os próprios paradigmas mediante ao fato de sempre olhar com desdém para aqueles que como o deputado Fraga, defende os Direitos Humanos; se a violência que usara estava( de certa forma) a serviço de um estado corrupto? Confuso, Nascimento rever certos valores e neste filme é um personagem menos arrojado, no entanto, mais maduro e ainda corajoso.

Padilha atenta também para o poder da mídia. O jornal que ignora certo assunto por causa proximidade das eleições. O apresentador de programa sensacionalista, ridicularizado pelo próprio Governador que precisa dele, pois o programa tem boa audiência. Estreitamento de relações nas quais fortalecem a máquina do Estado.

É estabelecido nos créditos iniciais: o filme é uma obra de ficção e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Obviamente, como notou uma matéria sobre o filme no Jornal ‘O Globo’, um miliciano não dispararia tiros para o alto em um churrasco comemorativo em uma comunidade na presença do Governador e do Secretario de segurança; difícil acreditar que um policial reuniria o aparato do Estado para montar uma blitz no intuito de encher de pancada um Secretário de Segurança corrupto. Essas questões não são problemáticas. Afinal, é cinema, é imaginário. É triste constatar ( principalmente como morador do Rio de Janeiro), no entanto, que muitos dos personagens desta obra fictícia são reais e estão no poder.

Com excepcional técnica – excelentes cenas de ação, perfeito encadeamento das cenas com uma uma montagem competente que mantém o ritmo da narrativa mesmo com um roteiro tão intrincado – Tropa de elite 2 é um filme pessimista. O vilão é o Estado, pois os políticos são os condutores deste. Clássico.

domingo, 17 de outubro de 2010

Proibido fumar

Direção: Anna Muylaert
Roteiro: Anna Muylaert


Crônicas cotidianas são corriqueiras no cinema nacional. Em várias oportunidades surgem filmes com a proposta de retratar histórias de um ‘microcosmo social’ presente em uma cidade pequena, média ou em uma megalópole como São Paulo, revelando nuances do comportamento de pessoas. O convincente ‘Proibido Fumar’ da diretora Anna Muylaert insere se nessa linha ao abordar a história de uma professora de violão fumante que se apaixona pelo novo vizinho.



Baby (Glória Pires) é uma dona de casa estressada, que briga com a irmã por causa de um sofá que pertenceu a uma tia falecida e discute com a outra irmã (e vizinha de porta) por qualquer motivo aparente. Ela fuma vários cigarros por dia, o que de certa forma a tranquiliza. A personalidade turbulenta da moça ansiosa, que enquanto muda os canais da TV ( todos, ironicamente, com programas que incentivam o cuidado com a saúde) fuma um cigarrinho com ar de impaciência, é bem representada por Glória Pires, a atriz se entrega no papel e tem êxito com uma caracterização que faz jus à sua experiência em cena. O panorama ganha novos contornos quando Baby conhece o músico Max( Paulo Miklos) e por ele se apaixona. Max é um desses músicos de restaurantes cujo público não lhe confere devida atenção. Com a afinidade inicial, Baby resolve abandonar o cigarro e acredita na probabilidade viver um amor bonito e saudável. É revelado, então, o ponto alto do filme. O olhar cínico sobre relacionamentos.




Max não representa o ideário de um gentleman comum em comédias românticas ou romances clássicos. Apesar de mostrar-se carinhoso, dedicar uma música para Baby em uma de suas apresentações na noite paulistana, é um jeito que reclama do salmão oferecido no primeiro jantar a dois, por não conter molho e de quebra, elogia a habilidade da ex namorada( uma modelo de belas mãos) ao preparar o prato. As situações provocam rusgas no relacionamento com Baby, até então anestesiada com os primeiros acordes da ‘paixão’. Esses ganham respaldo com a química entre os atores.


Por outro lado, a inserção de uma reviravolta no decorrer da trama não funciona adequadamente, e soa artificial a tentativa de ambientar um suspense com o uso de câmeras de seguranças, e planos que sugerem que certo personagem está sendo perseguido. O roteiro explica o uso desses artifícios com situações posteriores, mas em relação à trama os mesmos revelam se dispensáveis.

O fato de Proibido fumar não ser amparado em um discurso anti (ou pró) tabagista reforça suas boas intenções. O cigarro aqui é visto (apenas) como válvula de escape para as vicissitudes do cotidiano; ao focar nos conflitos humanos dos personagens, mesmo que sem aprofundar, o filme acerta. Certas palavras, no entanto, deveriam ser remodeladas nesta “crônica”. Pelo bem do filme.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Amor à Distancia

Direção: Nanette Burstein
Roteiro: Geoff Latulippe

Dentre os gêneros cinematográficos a comédia romântica é o mais suscetível aos clichês. Ano passado ‘ 500 dias com ela’ trouxe certo brilho ao gênero com novidades na narrativa. Mas no geral as fórmulas se repetem, e mesmo que alguns filmes tenham bons momentos, são fadados ao esquecimento pois é difícil presenciarmos elementos novos, na narrativa ou no enredo. O filme Amor à Distância se enquadra no hall dos simpáticos, porém esquecíveis.



Erin( Drew Barrymore) tem 31 anos e trabalha como estagiária em um modesto jornal em Nova York. Insatisfeita com o rumo profissional decide sair para beber e encontra Garret( Justin Long). Os dois se apaixonam, mas Erin vai morar em São Francisco, e o que deveria ser um amor de verão, se transforma num namoro a muitas milhas de distância com eventuais idas e vindas para reencontros.


Um aspecto deve ser ressaltado. Os dois protagonistas são interessantes e extremamente divertidos, principalmente Erin uma mulher inteligente e charmosa que foge do padrão “mocinha certinha” pois bebe, fala palavrão e suja o rosto com comida enquanto come e conversa. Ela cativa o coração de Garret (e a simpatia do expectador) pela sensibilidade aliada à simplicidade.


Infelizmente o mesmo não se pode dizer dos coadjuvantes. A dupla de amigos de Garret é formada por sujeitos idiotas que soltam várias piadas de conotação sexual ultrapassadas. Em determinado momento um dos personagens aponta a maneira a qual Garret deveria ter chorado após o fim de um relacionamento recente. Ele insiste na piada que jamais soa convincente. A super protetora irmã de Erin e o marido, até merecem um destaque maior pela participação em uma cena hilária a qual Erin e Garret são flagrados transando. No mais, cumprem a função do típico elenco de apoio sem brilho, que aparece para oferecer um ou outro conselho à protagonista.


Algumas pessoas discordam, mas julgo necessária a boa construção de personagens mesmo em filmes considerados ‘leves’. A superficialidade deles, no caso de Amor à Distancia é determinante para o desenrolar da trama.


O excesso de viagens para reencontros amorosos torna a narrativa mais enfadonha, assim como as várias juras de amor dos protagonistas. Eles estão apaixonados, sim. E apaixonados são repetitivos, piegas. Isso, no entanto, não justifica os diálogos expositivos nos quais os personagens declaram a todo o momento o que o expectador já está cansado de saber, que eles se amam e sentem falta um do outro.


Os defeitos, por mais difícil que pareça, não fazem de Amor à Distância um filme execrável. A química dos personagens é boa, assim como algumas tiradas cômicas. No entanto, o fato de a produção não oferecer elementos novos devido a demasiada previsibilidade do roteiro, permite que a relação entre o expectador e o filme seja apenas um amor de verão, breve e efêmero.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Os normais 2

Direção: José alvarenga JR
Roteiro: Alexandre Machado / Fernanda Young


Não assisti ao primeiro Os normais , assim como não acompanhei a série televisiva. Ao comentar sobre Os normais 2 não terei o primeiro filme ou a série para fazer referência ou traçar algum comentário comparativo. Porém, na difícil experiência que passei ao assistí-lo, posso dizer. O filme é ruim, muito ruim.

Rui(Luís Fernando Gumarães) e Vani( Fernanda Torres) é o famoso casal, que vive uma crise conjugal por causa da insossa rotina estabelecida após 13 anos juntos. No intuito de apimentar a relação com um ménage a troi, os dois embarcam em uma insana busca pela companhia ideal para o momento íntimo. Dentre as pretendentes surge uma prima com vasta experiência no assunto, uma lutadora de kickboxing, uma bissexual rica e uma francesa misteriosa.


Graças ao sofrível roteiro de Fernanda Young que atenta propositalmente para o inverossímil,e que desanda por causa do excesso de diálogos infrutíferos e a infantilidade dos personagens, a aventura delirante cansa. Em determinado momento num banheiro feminino personagens conversam sobre crises no relacionamento e a protagonista utiliza um batom como lápis para desenhar no espelho um gráfico que relaciona o tempo de união ao período de desgaste. A idade das personagens na sequência varia entre os 20 e 40 anos, mas a impressão que fica é que ao entrar no lavabo elas regrediram para 14 ou 15 devido ao despejo de um arsenal de clichês de ‘guerrinha dos sexos’. Haja paciência.

A direção de José Alvarenga Jr, para piorar, é marcada por uma concepção visual semelhante a de programas televisivos( fato,aliás, muito comum em produções da Globo Filmes) com muitos closes e cortes abruptos o que confere ao filme aspectos deselegantes que não funcionam na linguagem cinematográfica. Por quê fazer um filme com cara de novela do Jorge Fernando?

Ao ter um posicionamento sobre um filme de comédia é preciso cuidado na identificação da proposta da obra. Sim, o filme foi feito para matar de rir aquele espectador que vai ao cinema sem o compromisso de assistir um clássico, ou mesmo uma comédia inteligente pontuada por diálogos sarcásticos ou referências políticas; é uma produção ‘leve’ e ‘ descompromissada. Estive atento a esse detalhe e o analisei como tal. Os normais 2, no entanto, trata o expectador como idiota com o exagero nos lugares comuns(escorregões, pancadas, trocadilhos manjados com conotação sexual, etc) e diante de todos os defeitos, não tem respaldo positivo mesmo com suas escassas pretensões.