O tom opaco da fotografia que representa o rigoroso inverno do país escandinavo também preenche o aquecido bar freqüentado pelo trio e apesar do bom humor deles – garantido pelas generosas doses de Vodka, claro – as cores escuras ilustram a apatia e preocupação devido à angustia que os atormenta. O expressivo olhar de Erkki com terno e paletó igualmente escuros é representativo.
O número musical de cada um deles é, seguramente, um dos melhores momentos do filme. Cada música os representa de determinada forma e sintetiza as turbulências das suas vidas. Em determinado momento da apresentação de Marti ele declama com intensidade “você foi para outra cama”. Óbvia alusão ao fato de desconfiar (ou ter certeza) que fora traído pela esposa. As canções contribuem para a catarse de sentimentos. O dono do estabelecimento ao convocar a todo o momento uma nova apresentação, se transforma numa espécie de psicólogo, no qual ajuda o trio a expor os seus pesares, e o bar transforma-se num divã, ou uma espécie de “Associação de Desesperados Anônimos”. No desespero expresso nas letras das músicas, existe um fio de esperança. É Natal.
Assim como no recente O ciúme mora ao lado, Mika Karismäuki concebe um filme de bons personagens, diálogos inteligentes e situações curiosas. Apesar de ser um drama Três homens e Uma Noite Fria jamais desce ladeira a baixo no exagero melodramático. Este é um filme natalino, preenchido por sentimentos otimistas, solitários, agradáveis. No fundo do poço existe uma mola. Clichê? Sim, e daí?
Crítica publicada no site: http://www.cinemanarede.com/
sábado, 4 de dezembro de 2010
Três Homens e uma Noite Fria
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
O cinema de Wong Kar Wai
Não existe preocupação com o roteiro (no sentido de contar uma história com ordem cartesiana e relação causa/efeito) nos filmes de Wong, eles não seguem a narrativa no sentido clássico. Como fora mencionado, o ordenamento lógico dos acontecimentos é secundário (ou talvez nulo), o estado de espírito dos personagens é o foco. Em Amores Expressos (1994) o policial lamenta o fim do relacionamento e come várias latas de abacaxi em calda, com a preocupação de que o prazo de validade da última lata coincida com a data do término, e questiona-se: “Será que algo no mundo não tem data de validade?”.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Tetro
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Tropa de Elite 2
Roteiro: Bráulio Mantovani
No filme, Capitão Nascimento (Wagner Moura, incrível) após uma mal sucedida operação em um presídio, passa a entregar a Secretaria de Segurança do Estado. Com seu perfil conhecidamente violento decide transformar o BOPE em uma máquina de guerra e expulsa traficantes de vários morros cariocas. O fato permite a ocupação desses morros por milicianos. Além dos problemas no trabalho, a vida pessoal de Nascimento encontra percalços na ‘distante’ relação com o filho e no confronto ideológico com Fraga, deputado Estadual com posições contrárias as dele, que é casado com sua ex mulher. O ator Wagner Moura mantém o tom viril, e sanguinário do Nascimento do primeiro filme, mesmo que não parta para o confronto físico, o ex Capitão ‘explode’ com surpreendente facilidade, o que fica claro em discussões ásperas com Fraga e o ex companheiro do BOPE Matias. O ator por outro lado, constrói um Nascimento, acuado, desiludido e inseguro ao, muitas vezes, ter que lidar com situações que jamais imaginara. Ter que confrontar um sistema corrupto, no qual o mesmo faz parte, como uma singela engrenagem.
Transformar o ‘super herói’ do primeiro Tropa de Elite em uma engrenagem do sistema é uma das principais virtudes do filme. Se antes as soluções pareciam pautáveis, hoje a complexidade dos problemas o atordoa, o diminui, e de certa forma, o humaniza. Como lutar contra grupos criminosos que atuam dentro do próprio Estado, da própria Secretaria de Segurança para proteger os milicianos que seriam úteis no processo eleitoral na conquista de votos para o Governador em questão? Como confrontar com os próprios paradigmas mediante ao fato de sempre olhar com desdém para aqueles que como o deputado Fraga, defende os Direitos Humanos; se a violência que usara estava( de certa forma) a serviço de um estado corrupto? Confuso, Nascimento rever certos valores e neste filme é um personagem menos arrojado, no entanto, mais maduro e ainda corajoso.
Padilha atenta também para o poder da mídia. O jornal que ignora certo assunto por causa proximidade das eleições. O apresentador de programa sensacionalista, ridicularizado pelo próprio Governador que precisa dele, pois o programa tem boa audiência. Estreitamento de relações nas quais fortalecem a máquina do Estado.
É estabelecido nos créditos iniciais: o filme é uma obra de ficção e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Obviamente, como notou uma matéria sobre o filme no Jornal ‘O Globo’, um miliciano não dispararia tiros para o alto em um churrasco comemorativo em uma comunidade na presença do Governador e do Secretario de segurança; difícil acreditar que um policial reuniria o aparato do Estado para montar uma blitz no intuito de encher de pancada um Secretário de Segurança corrupto. Essas questões não são problemáticas. Afinal, é cinema, é imaginário. É triste constatar ( principalmente como morador do Rio de Janeiro), no entanto, que muitos dos personagens desta obra fictícia são reais e estão no poder.
Com excepcional técnica – excelentes cenas de ação, perfeito encadeamento das cenas com uma uma montagem competente que mantém o ritmo da narrativa mesmo com um roteiro tão intrincado – Tropa de elite 2 é um filme pessimista. O vilão é o Estado, pois os políticos são os condutores deste. Clássico.
domingo, 17 de outubro de 2010
Proibido fumar
Roteiro: Anna Muylaert
Baby (Glória Pires) é uma dona de casa estressada, que briga com a irmã por causa de um sofá que pertenceu a uma tia falecida e discute com a outra irmã (e vizinha de porta) por qualquer motivo aparente. Ela fuma vários cigarros por dia, o que de certa forma a tranquiliza. A personalidade turbulenta da moça ansiosa, que enquanto muda os canais da TV ( todos, ironicamente, com programas que incentivam o cuidado com a saúde) fuma um cigarrinho com ar de impaciência, é bem representada por Glória Pires, a atriz se entrega no papel e tem êxito com uma caracterização que faz jus à sua experiência em cena. O panorama ganha novos contornos quando Baby conhece o músico Max( Paulo Miklos) e por ele se apaixona. Max é um desses músicos de restaurantes cujo público não lhe confere devida atenção. Com a afinidade inicial, Baby resolve abandonar o cigarro e acredita na probabilidade viver um amor bonito e saudável. É revelado, então, o ponto alto do filme. O olhar cínico sobre relacionamentos.
Max não representa o ideário de um gentleman comum em comédias românticas ou romances clássicos. Apesar de mostrar-se carinhoso, dedicar uma música para Baby em uma de suas apresentações na noite paulistana, é um jeito que reclama do salmão oferecido no primeiro jantar a dois, por não conter molho e de quebra, elogia a habilidade da ex namorada( uma modelo de belas mãos) ao preparar o prato. As situações provocam rusgas no relacionamento com Baby, até então anestesiada com os primeiros acordes da ‘paixão’. Esses ganham respaldo com a química entre os atores.
O fato de Proibido fumar não ser amparado em um discurso anti (ou pró) tabagista reforça suas boas intenções. O cigarro aqui é visto (apenas) como válvula de escape para as vicissitudes do cotidiano; ao focar nos conflitos humanos dos personagens, mesmo que sem aprofundar, o filme acerta. Certas palavras, no entanto, deveriam ser remodeladas nesta “crônica”. Pelo bem do filme.
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Amor à Distancia
Dentre os gêneros cinematográficos a comédia romântica é o mais suscetível aos clichês. Ano passado ‘ 500 dias com ela’ trouxe certo brilho ao gênero com novidades na narrativa. Mas no geral as fórmulas se repetem, e mesmo que alguns filmes tenham bons momentos, são fadados ao esquecimento pois é difícil presenciarmos elementos novos, na narrativa ou no enredo. O filme Amor à Distância se enquadra no hall dos simpáticos, porém esquecíveis.
Erin( Drew Barrymore) tem 31 anos e trabalha como estagiária em um modesto jornal em Nova York. Insatisfeita com o rumo profissional decide sair para beber e encontra Garret( Justin Long). Os dois se apaixonam, mas Erin vai morar em São Francisco, e o que deveria ser um amor de verão, se transforma num namoro a muitas milhas de distância com eventuais idas e vindas para reencontros.
Um aspecto deve ser ressaltado. Os dois protagonistas são interessantes e extremamente divertidos, principalmente Erin uma mulher inteligente e charmosa que foge do padrão “mocinha certinha” pois bebe, fala palavrão e suja o rosto com comida enquanto come e conversa. Ela cativa o coração de Garret (e a simpatia do expectador) pela sensibilidade aliada à simplicidade.
Infelizmente o mesmo não se pode dizer dos coadjuvantes. A dupla de amigos de Garret é formada por sujeitos idiotas que soltam várias piadas de conotação sexual ultrapassadas. Em determinado momento um dos personagens aponta a maneira a qual Garret deveria ter chorado após o fim de um relacionamento recente. Ele insiste na piada que jamais soa convincente. A super protetora irmã de Erin e o marido, até merecem um destaque maior pela participação em uma cena hilária a qual Erin e Garret são flagrados transando. No mais, cumprem a função do típico elenco de apoio sem brilho, que aparece para oferecer um ou outro conselho à protagonista.
Algumas pessoas discordam, mas julgo necessária a boa construção de personagens mesmo em filmes considerados ‘leves’. A superficialidade deles, no caso de Amor à Distancia é determinante para o desenrolar da trama.
O excesso de viagens para reencontros amorosos torna a narrativa mais enfadonha, assim como as várias juras de amor dos protagonistas. Eles estão apaixonados, sim. E apaixonados são repetitivos, piegas. Isso, no entanto, não justifica os diálogos expositivos nos quais os personagens declaram a todo o momento o que o expectador já está cansado de saber, que eles se amam e sentem falta um do outro.
Os defeitos, por mais difícil que pareça, não fazem de Amor à Distância um filme execrável. A química dos personagens é boa, assim como algumas tiradas cômicas. No entanto, o fato de a produção não oferecer elementos novos devido a demasiada previsibilidade do roteiro, permite que a relação entre o expectador e o filme seja apenas um amor de verão, breve e efêmero.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Os normais 2
Rui(Luís Fernando Gumarães) e Vani( Fernanda Torres) é o famoso casal, que vive uma crise conjugal por causa da insossa rotina estabelecida após 13 anos juntos. No intuito de apimentar a relação com um ménage a troi, os dois embarcam em uma insana busca pela companhia ideal para o momento íntimo. Dentre as pretendentes surge uma prima com vasta experiência no assunto, uma lutadora de kickboxing, uma bissexual rica e uma francesa misteriosa.
Graças ao sofrível roteiro de Fernanda Young que atenta propositalmente para o inverossímil,e que desanda por causa do excesso de diálogos infrutíferos e a infantilidade dos personagens, a aventura delirante cansa. Em determinado momento num banheiro feminino personagens conversam sobre crises no relacionamento e a protagonista utiliza um batom como lápis para desenhar no espelho um gráfico que relaciona o tempo de união ao período de desgaste. A idade das personagens na sequência varia entre os 20 e 40 anos, mas a impressão que fica é que ao entrar no lavabo elas regrediram para 14 ou 15 devido ao despejo de um arsenal de clichês de ‘guerrinha dos sexos’. Haja paciência.
A direção de José Alvarenga Jr, para piorar, é marcada por uma concepção visual semelhante a de programas televisivos( fato,aliás, muito comum em produções da Globo Filmes) com muitos closes e cortes abruptos o que confere ao filme aspectos deselegantes que não funcionam na linguagem cinematográfica. Por quê fazer um filme com cara de novela do Jorge Fernando?
Ao ter um posicionamento sobre um filme de comédia é preciso cuidado na identificação da proposta da obra. Sim, o filme foi feito para matar de rir aquele espectador que vai ao cinema sem o compromisso de assistir um clássico, ou mesmo uma comédia inteligente pontuada por diálogos sarcásticos ou referências políticas; é uma produção ‘leve’ e ‘ descompromissada. Estive atento a esse detalhe e o analisei como tal. Os normais 2, no entanto, trata o expectador como idiota com o exagero nos lugares comuns(escorregões, pancadas, trocadilhos manjados com conotação sexual, etc) e diante de todos os defeitos, não tem respaldo positivo mesmo com suas escassas pretensões.