terça-feira, 20 de julho de 2010

Encontros e desencontros

Direção e roteiro : Sofia Coppola

Afirmar que assistir filmes requer atenção é cair na obviedade. Lógico que precisa de atenção. Obter um conhecimento breve sobre a premissa da história, e os trabalhos anteriores do cineasta também é útil para o espectador compreender os aspectos mais profundos da obra. Se há quatro anos o filme ‘ Encontros e desencontros’ me passou despercebido, hoje o considero incrível. O segundo trabalho da diretora Sofia Coppola tem uma história simples, com excelentes atuações e louvável ambientação.

Charlotte é uma jovem americana que acompanha o marido em uma viagem para Tóquio. Bob Harris é um ator que parte rumo a capital japonesa com o objetivo de gravar um comercial de whisky. Ambos se hospedam no mesmo hotel, e tem em comum, além da insônia, o fato de estarem insatisfeitos na vida conjugal. O marido de Charlotte devota extrema atenção ao trabalho, enquanto Bob e a esposa mantêm uma relação pacífica, porém fria. O encontro desses dois personagens permite uma transformação saudável na vida deles.

Encontros e desencontros é conduzido de forma meticulosa, com detalhes que merecem destaque. Os planos em expressões faciais que demonstram cansaço e insatisfação aparecem com frequência, como no cena em que Charlotte aparece na janela olhando para o horizonte ou a que Bob está sentado no bar, bebendo e dispensando conversas. Em determinado momento, quando o marido de Charlotte conversa com uma amiga “celebridade’’, fútil e extremamente efusiva o descontentamento de Charlotte é evidenciado com sutis movimentos corporais e olhares embaraçados nos quais demonstram que ela está totalmente deslocada em relação aquele contato e ao próprio casamento.

Vale ressaltar o excelente trabalho da atriz Scarlet Johansson que demonstra naturalidade ao conceber uma Charlotte contida, reservada, mas que não deixa de ser divertida e alegre nos momentos de boa companhia. Ou seja, quando encontra Bob, um parceiro mais velho, mas que além dos problemas pessoas, tem o senso de humor semelhante ao dela. Bill Murray o representa com maestria.

A ambientação do filme é caprichada . Os personagens caminham por uma Tóquio viva, e obviamente high tech, com boates e parques de jogos eletrônicos lotados de pessoas de vários tipos, ilustrando assim a densidade demográfica e diversidade cultural do Japão. Mas a carência afetiva e a solidão dos personagens os deixam ‘perdidos’ e alheios à tanta efervescência. Eles só se sentem bem e integrados ao contexto local quando estão juntos. Um completa o outro. Quando isso acontece, partem para a diversão e deixam a sisudez de lado para cantar num Karaokê completamente bêbados.

Sofia Copola atenta em conduzir a história com ênfase no desenvolvimento dos personagens. E tem êxito. Graças ao talento dos protagonistas em expressar sentimentos através de olhares e palavras e à narrativa lenta e cuidadosa que conduz Charlotte e Bob a passeios e boas conversas.

Um filme para ser assistido com atenção e devoção. Os detalhes de uma obra tão inteligente não devem ser ignorados.

4 comentários:

Brunna Antunes disse...

Bruno! Achei fantástica a sua crítica. De forma bem informativa, você analisou os pontos mais importantes do filme, com uma sensibilidade que só um bom crítico possui. Parabéns! Fico muito feliz por vc estar evoluindo nitidamente a cada texto! E sobre o fato de vc ter assistido quatro anos depois e ter mudado de opinião sobre o filme, com certeza isso se deve ao seu aprofundamento maior nas peculiaridades da linguagem cinematográfica e por vc ter adquirido um olhar mais perspicaz sobre as obras e não só apenas um olhar de cinéfilo. Muito legal, continue escrevendo pois vc está no caminho certo! :)
A propósito, gostei muito da sua reflexão sobre o contraste entre o Japão, dinâmico e expansivo, e a vida monótonma e vazia dos dois personagens principais. A escolha dos adjetivos foi muito bem-sucedida , posto que parece besteira, mas ter um vocabulário extenso é um ingrediente importantíssimo de um texto bem escrito.

Anônimo disse...

Eu gosto desse filme.
As melhores cenas são da Anna Faris bêbada cantando Carly Simon e do Bill Murra gravando comercial.
Você é bem meticuloso tbm na crítica... parabéns...

robson disse...

Realmente um excelente filme gostei

Cristiano Contreiras disse...

Eu sou fascinado por este filme!